"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

[sentido da vida]

Estava eu me increvendo para o TEDxDaLuz e me aparecem tais questões:






Quis compartilhar as respostas.

Minha dúvida em relação à vida e ao meu sentido nela são tantas e ao mesmo tempo nenhuma. O 'tantas' refere-se a nossa pequenez diante do universo. A falta de um fim universal me intrigou desde pequena. Sempre acreditei em finais e não entendo o que vem depois disso: o que está além do universo? Onde acaba esse além infinito? E por acreditar tanto em finais, saber que a vida chega ao fim é o suficiente. O que existe ou deixa de existir além dela não me importa muito. Minhas dúvidas se formam em torno do que é infinito. A vida, por ser finita, me basta. E quaisquer dúvidas que me apareçam, de repente, acerca de sentidos existenciais, não são importantes o suficiente diante dessa vastidão toda que nos envolve lá em cima.


A certeza em relação à vida é que existe a morte, e isso eu li em algum lugar. Certezas inconstantes tenho várias, a cada segundo elas mudam um pouquinho. Certezas absolutas tenho duas: meus pais. O sentido da vida está justamente no fato de que não existe um sentido da vida. De Monty Python a Alberto Caeiro tirei tais conclusões. Como o mestre disse, que uma flor não é mais do que uma flor, não tentemos também descrever a vida como outra coisa. A gente vive aqui e agora e isso é o importante. A gente morre também, alguma hora. Não tenho uma razão de estar aqui, mas estou feliz que seja dessa maneira.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

[de pequena]



de pequena que a gente começa a sentir medo.
de pequena que eu tinha um sonho-pesadelo sobre um tubarao e uma baleia dentro de uma piscina e uma menininha presa do outro lado. de pequena que eu abria os olhos quando ia dormir e olhava para a luz nas frestas da persiana, para ver se eu ainda conseguia ver. de pequena eu tinha esse medo de nao ver mais as coisas e o trauma foi crescendo numa outra proporção, mas continua ali dentro.
era de pequena tambem que eu arrumava o cerebro pra conseguir dormir. sempre fui bagunceira. o meu quarto sempre foi o mais desarrumado. meu cabelo moldado pelo sonho da noite anterior. minha roupa amassada era charme. o estilo, preguiças matinais. e pra ser so um pouquinho mais organizava eu deixava a casa em ordem pra pegar no sono. pensava a minha cabeça como muitas comodas e muitas gavetinhas. o chao cheio de roupas espalhadas. e assim eu guardava uma a uma, meio por magica, na verdade elas se guardavam sozinhas. e depois que o chao estava limpo eu adormecia. era mais ou menos desse jeito.
talvez algumas gavetas estejam trancadas a chave e algumas memorias nao conseguem se misturar as outras e virar bagunça de novo. elas ficam guardadinhas e sometimes uma ou outra consegue escapar.
ja me basta ser a camareira em sonhos, ser chaveiro também está alem das minhas capacidades.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

[transparência]


transparência é a nova carência do mundo.
por mais que eu sempre diga que falta cor, a ausência dela é também muito importante.
não uma ausência total, e sim parcial, daquelas que a gente escolhe a porcentagem quando quer fingir de photoshopper.
São Paulo, como é de conhecimento geral, é de um cinza muito dos densos. não dá pra ver nada através dele. nem ouvir. é um misto de poluentes, com doentes, malemolentes, lentes de tudo quanto é tipo, de câmeras e de gente que acha que vê direito, mas é mentirinha.
odeio aquelas coisas de: se voce fosse um animal qual voce seria? ou do tipo: cite 5 defeitos e 5 qualidades suas. mas enfim, preciso dizer que transparência é meu maior defeito e minha maior qualidade.
nao vou dizer que sou sincera, por mais que o queira ser sempre, não consigo deixar alguem magoado dizendo que aquele super vestido lindo e mara dela é de muito mau gosto, entre outras coisas.
o problema é que eu não consigo mentir nem um pouquinho. por mais que diga que está lindo e mara e tdb, já mencionado o fato de eu me transparecer inteira, é muito óbvio que estou mentindo.
as pessoas me decifram com uma facilidade quando tento ser o verso de mim mesma. é tão errado que se torna óbvio, até para quem nunca me viu.
por ser transparente demais as vezes me sinto nao vista por ninguem. ai é hora de mudar aquela porcentagem e me deixar um pouquinho mais visivel aos olhos alheios.
mas nao é de todo ruim. se nao for machucar o outro, falo com honestidade, e nao espere de mim outra coisa. quando muito translucida falo mais sério. um banho de photoshop me faz mais engraçadinha. nao queria ser de outra forma, gosto de me ser assim. acredito ser um jeito mais verdadeiro de ser pessoa. me transpareço e me gosto. gostaria mais do mundo se ele assim o fosse também.
as vezes se estar um pouco pálido não é sinal de fraqueza. pode ser um sinal de entendimento daquele que some um pouco e de vez em quando.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

viajar muda a gente na essencia. lá fora significa sair de voce mesmo, nao só do seu cantinho. é um lugar em que nao se conhece ninguem, nem a voce mesmo. fui uma pessoa outra, com outro nome, outro rosto e outras preocupações. nao pensei nem um momento no que poderia estar perdendo por aqui, já que estava ganhando tanto por lá. só queria ver tudo e ficar o suficiente no tudo que eu via. queria respirar, sentir o lugar. queria saber que era real, mas nunca foi real pra mim, foi real pra alguem que só aparece quando existe a liberdade total de ser quem se quer. liberdade. parece que voltar é prender tudo que se quer fazer dentro de voce. os traumas as lembranças os conhecidos tudo ali de volta. tudo que eu quero fazer agora está preso. tenho uma energia enorme dentro de mim que nao vai embora, que me lembra o tempo todo que nao estou fazendo o que quero fazer e o tempo passa e acumula. e nem escrever eu consigo mais. eu mal consigo me mexer. eu penso lá longe todo dia. meu eu mesmo a 10.000 km de mim me esperando pra voltar a ser algum dia. nao sou util aqui, por que deveria continuar assim? quero cair de novo no mundo, quero me ser e me deixar ser pra sempre.

quinta-feira, 15 de março de 2012

a gente volta e nao sabe mais ficar. foi um tal de sentir lá fora que eu só quero sentir tudo isso de novo.
em casa existem expectativas. no mundo nao se espera nada de voce.
eu to num que de que de desespero que nao me deixa dormir. o calor tambem da uma ajudinha nessa insonia toda.
eu sei bem aonde eu queria estar. eu sei bem muita coisa agora.
minha imunidade perdeu-se no caminho.

domingo, 29 de janeiro de 2012

as vezes me doi tanto. me dói os olhos, a boca cala de dor tambem, me dói o peito e as mãos. quase nao consigo escrever. o sufoco no peito se torna novamente um motivo para fugir. fugi uma vez já, mas nao sinto vergonha pela fuga. fugas nao deveriam ser motivos de constrangimento, algumas vezes tudo bem. mas o mundo anda pesado demais para o outro mundo la fora nao parecer uma tentaçao. a grama é sempre mais bonita.
a rotina desinteressa as coisas e precisamos de novas noticias para distrair. novos produtos tambem. novas novelas. big brother. sempre me perguntei por que as pessoas assistem big brother. qualé a lógica do negocio? entender a margarina da propaganda eu entendo. a familia é sempre mais feliz. cliche, uso varios, mas a historia da propaganda é feita de cliches e big brother é feito de malhação. estou falando da novela, antes que se pense qualquer outra coisa. a unica vez na vida que assisti a coisa era mais ou menos assim: $%##$%¨%%$ voce é muito escandalosa! VOCE TA ME CHAMANDO DE GORDA?!. ou alguma coisa assim. OI? - é o meu unico pensamento acerca do assunto. se se gosta da margarina da propaganda porque a familia é feliz, gosta-se de Big Brother porque a vida é tão mais emocionante que eles ficam 10 dias sem se mexer, sem ir no banheiro, ou whatever, levando balde d'água na cabeça a cada 2 minutos (e voce assiste isso? assim, seriously?!)? a vida anda TÃO caótica e desinteressante?
mas eu nem sei por que raios estou falando disso quando o ponto é outro. me incomoda as pessoas gostarem de programas como esse e tantos outros. me incomoda muito. ainda mais porque muitas pessoas que eu amo tanto gostam. nao quero julgar, mas PORRA, Big Brother já é demais né?
acho que é uma dessas fugas que o ser humano precisa (citando um dos casos vergonhosos). mas eu tambem fugi de uma outra maneira.
o ano era de eleição e voces sabem, a coisa ali vira torcida de futebol (como disse meu pai e eu concordo). nao importa que time ta ganhando, o juiz é sempre ladrão. xingar a mãe do jogador é de praxe, tacar pedra no campo, sair na porrada. sair na porrada porque aquele cara ali nao torce pro Quinta de Piraporinha - mas tem que matar mesmo, que absurdo nao torcer pro Quinta! - porra, ele não é filho da minha mãe, TEM QUE MORRER! (pra mim a lógica é a mesma.. nenhuma). nao entendo, torce-se tanto em ano eleitoral, briga-se tanto, fala-se TANTA besteira e mostra-se TANTO preconceito, que quem quis morrer fui eu.
COMO ASSIM (num país democratico, lembrando) muita gente ficou indignada que mais pessoas iriam poder votar na eleição, dado que nao seria mais preciso mostrar o titulo de eleitor. COMO ASSIM foi golpe do partido para arrecadar mais votos? ALOOOO mais pessoas podem votar, o país é DEMOCRÁTICO lembra? AH TA. o contrario poderia ser golpe...
COMO ASSIM dois dos maiores jornais do país, que reclamam de censura e da falta de liberdade de expressão, que se sentem tão injustiçados (tadinhos) e reprimidos, COMO ASSIM além de todas as noticias claramente tendenciosas

crianças com os mais diversos graus de deficiencia mental me ensinaram que "prem" significa amor e "mushkil" significa dificil. me mostraram tambem que qualquer um pode sentir amor materno. bollywood me ensinou que todas as historias de amor são dificeis. uma mae de 70 anos e sua filha deficiente mental de 40 me ensinaram que todas as historias dificeis acabam em amor. uma velhinha que me ensinou a bordar, me ensinou tambem que para a comunicacao basta saber 5 palavras "um, dois, tres", "amanha" e "obrigada". crianças de 12 anos me ensinaram como se veste uma fralda num bebe, e que da pra ser feliz mesmo que nao se tenha dinheiro pra comer mais de uma vez por dia. crianças da favela riram ao saber que no ocidente se casa por amor após os 30 anos. Lá todos os casamentos sao arranjados quando as meninas tem a minha idade. Uma mulher me ensinou que piercing no nariz é um sinal MUITO importante de respeito ao marido, assim como o bindi.

...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

é engraçado quando a gente se percebe mais da gente mesmo. eu aprendi que quando me da uma vontade ridicula de comer doce, eu preciso escrever.
estou em casa e preciso sair daqui. as vezes escrever é meu jeito de sair de casa.
a energia interior fica num rebuliço ali dentro e te manda ir pra algum lugar, qualquer outro lugar, porque ficar parado é meio que sofrimento desnecessario.
correr cansa bastante. ficar parado, um pouco mais.
o tédio me dá vontade de gritar. estou morrendo de tédio. em vez de gritar escrevo.
pra quem nao parou um dia durante meses, ficar em casa deveria ser uma benção (acho esta uma palavra engraçada)
descobri que nao é. vou pra praia daqui a pouco, espero eu, e esta é em parte minha salvaçao. estou me salvando de pensar sobre o futuro.