"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

[o deserto e o grão]


Não era uma praia, pois o mar não se via e a imensidão azul litorânea não passava de imagens e vontades que tinha, cá dentro de mim. Era outra coisa. Posso afirmar, não com toda a certeza, que o que estava diante de mim era um deserto. Na verdade, eram todos os desertos do mundo à minha frente. E isso eu afirmo sem dúvida alguma. Mas dentro daquela infinidade toda, que importavam as minhas dúvidas ou certezas? Eu era só mais um daqueles grãozinhos, cada qual com suas certezas e dúvidas.
Na palma da minha mão alojara-se um desse pequeninos. E o que significavam as certezas e dúvidas de um grão de areia na palma da minha mão? A incerteza me obriga a dizer tudo. Era uma infinitude de carne e um único grão de areia, com as ÚNICAS certezas e dúvidas daquela imensidão.

sábado, 9 de janeiro de 2010

[loteria do caráter]



Somos assim. Aquele meio termo entre o tudo e o nada. Cada um sendo o tempo todo aquela possibilidade infinita de ser (qualquer coisa). Somos o um nesse infinito. Somos uma chance quase nula de sermos (assim). Somos tudo que ninguém mais é, foi ou será. Mas também somos o nada. O um entre infinitos. Aquele um que não faz diferença, que faz parte do todo que aí sim faz a diferença.
Auto estima é só essa passagem entre o tudo e o nada da significância. O caminho entre ser único e ser mais um. Um caminho sutil. Uma linha tênue. Uma fronteira confusa que faz toda a diferença na vida do um e nenhuma na vida do todo.

[enquadrando]

Começo.
(Tudo tem seu inicio e fim. Na metade, os parentesis. São a minha forma de fugir do assunto, sabendo que serão retomados depois. São os meus escapes. A minha fuga provisória. Improvisada. Como quem admite a culpa, mas não quer discutir isso agora. Deixa pra daqui a pouco.)
Fim.