"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

[efeitos colaterais]

tantas vezes nos fazemos de desentendidos. se falo em conjunto é porque não quero carregar esta culpa sozinha.
nunca tinha me interessado por politica ou causas mais nobres dos que a constância dos meus dias tinha a me oferecer.
todos eram, não digo iguais, mas no mínimo parecidos comigo em todas as minhas crenças. para que eu haveria de tomar alguma atitude?
hoje esta pergunta me parece óbvia e tenho vergonha daqueles que ainda pensam assim.
e estar rodeada de pessoas tão diferentes me fez evoluir só um pouquinho nessa busca.
e se digo diferentes significa opiniões gritantemente diferentes. que batem de frente, sem pára choques intermediários. por mais que procure ser aberta a outros pontos de vista não consigo faze-lo se vão de encontro aos meus princípios. as vezes me dói tanto que não acredito. não acredito como ainda se possa ser tão contrário a própria humanidade e a uma vida digna. não acredito na falta de comunicação entre pessoas que, teoricamente, a utilizam para seu próprio sustento. não acredito na hipocrisia daqueles que pedem a cabeça de alguém que seria ele próprio caso tivesse oportunidade. defende-se causas pensando-se em interesses ocultos, que nada tem a ver com elas.
e não é uma, duas ou dez pessoas. o negócio está se tornando lucrativo, e quando a coisa é lucrativa torna-se viral, reafimando todo o jogo sujo por detrás.
a dor no meu caso é física. me sinto paralisada e fútil. sem base para agir e com uma revolta embrulhada no estômago.
e quando se tenta expor tais opinioes, tao contrárias a essa massa (nao digo melhores ou piores), só por serem diferentes de tal ordem causam desconfortos e constrangimentos. já nao ligo mais para olhares tortos alheios. ou tento não fazer isso.
sei dos meus principios e valores, queria entender mais dos principios e valores que não são meus. mas não aceito ou entendo crueldade de qualquer tipo. tenho nojo, ansia, tontura.
os efeitos colaterais são inúmeros. e tamanhos de letras de bulas  todos sabem como são. talvez por isso que poucos se interessem em conhecê-los. e daqueles que se interessam, certamente um bom número não conseguirá.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

[sentido e sensibilidade]

"precisa-se de explicações" anuncia o rosto social, denunciando o tamanho da ambição dos homens, querendo entender o que não possui um sentido de existência maior. existe com o único sentido de não ter sentido nenhum. (assim me ensinou o mestre sem saber que o fazia)
o movimento é eterno e creio nele como quem crê no sentido existencial. com a diferença de que se move sem sentido ou direção.
acreditar no (tantas vezes já citado) sentido é ser estático. e o sentido de ser estático é, não só nenhum, como também medíocre. ambos não me servem e descarto-os sem certeza se tornarei a vê-los algum dia.
não me importaria caso tornasse a vê-los, a bem da verdade. do mesmo modo que aprendi a nao me importar em reencontros pessoais desconfortáveis. prestar muita atenção a eles poderiam torná-los mais desagradáveis do que o necessário.
cotas de conforto e desconforto vão existir em menor ou maior grau, o tamanho de cada uma estará atrelado à importância que se dê ao assunto. prefiro não dar importância e me desconfortar por vezes menos, por vezes mais.
teorias sinteticamente errôneas. não sou teoricamente nada. sou assim, de corpo e movimentação. se não procuro por um sentido maior é porque não o possuo. procuro uma verdade naturalmente errante, que por ser errante não me afirma coisa nenhuma. só me faz acreditar. nao importa muito em que, só sei que se relacionam a atalhos e percursos sem saída e na mudança ininterrupta dos tais sentidos.