"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

[resumo da obra]


minha vida já teve muitas épocas. e nao importa exatamente a minha idade, só que gosto de dividí-la da maneira que me convém. estágios de amadurecimento, talvez.
(para que servem os anos, né?)
enfim, cada época eu encarava alguns assuntos de um jeito e distorcia em menor ou maior grau as informações que me eram passadas.
meus olhos focavam uma parte da situação.
a situação mudava, assim como o foco e o interesse em tais e tais detalhes.
pequenas coisas, por vezes, eram só o que me importava. por outras, imagens tão borradas não permitiam qualquer tipo de aproximação que fizesse algum sentido.
minha vida é meu conjunto de obras. nao digo exposição porque a bagunça é tão grande e meus quadros tão diferentes que não seria possível arranjar-lhes uma ordem.
no máximo uma ordem temporal.
mas aí esta não me convém.

domingo, 19 de setembro de 2010

[a falta sentida]



eu sinto muito. muitissimo.
eu sinto muita coisa. e sinto a falta delas também.
não penso ser uma coisa triste.
acho triste quem não tem do que sentir falta.
muita coisa eu esqueço. e guardo-as no lugar mais longe que consigo, dentro de mim.
mas as coisas que ficam, por mais tristes que sejam, são boas.
são boas por me lembrarem de ter vivido.
são boas por me lembrarem que por mais triste que sejam, elas passam.
eu gosto de sentir falta. e gosto ainda mais por transformar tudo que sinto falta numa daquelas pegadas do acaso que por acaso eu segui.
e por elas que estou aqui hoje, entre tantas possibilidades de estar (em algum outro lugar)
estou aqui. nesse momento. agora. aqui. escrevendo.
pensando nele. e neles. e nelas. pensando e existindo.
e sabendo que vou sentir falta deste momento aqui quando ler esse texto algum tempo depois.
só o que existe é passado. o presente não existe, nem futuro. e o passado aumenta a medida que o futuro diminui, mas ambos continuam infinitos. e o presente continua com a mesma finitude de sempre.
foi isso que eu pensei agora.
do que você sente falta?
eu sinto de você. mas é mentira.

sábado, 11 de setembro de 2010

Foi mais ou menos assim ó?

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?

O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

F.P.