Não mexia um centímetro seu corpo. Estava estática e resolvera passar o dia assim, respirando, só. O movimento ela guardava para o interior, afinal, querendo ela ou não, ele não deixaria de existir. A única saída era canalizá-lo para algum outro lugar. Pensou, talvez, que dentro do corpo o movimento cansaria menos. Pretensão.
O ser humano vive cheio de pretensões e ela não era diferente de nenhum deles.
O corpo parado e mudo era também pretensão. Ela estava frenética.
Os olhos baixos, meio fechados e os lábios semi-abertos, como se precisando só de um semi-respiro e uma meia visão para sobreviver. Assim pensava serem todos: respiravam pela metade, sem uma visão de vida, mundo e liberdade completamente formada.
O inteiro, o completo, pretensões. A solidez, pretensão. A integridade, sonho. Até as ilusões estavam pela metade. Se contentavam com a metade da utopia.
Por isso parou (de um lado só). Se não fosse um não seria outra coisa.
Mas parando o lado de fora, o de dentro dobrou a produção. Sentia cada parte daquela dimensão se agitar. O coração mandava duas vezes mais sangue para o corpo. A respiração estava mais rápida, por mais que aos outros não fosse perceptível. Ouvia mais. Sentia mais. Pensava e queria mais.
Precisou parar para se sentir (mais) viva.
Por fora desistiu de ser. Por dentro, finalmente sentiu o um que tanto almejara. Para ela bastou. Não importava se era pretensão ou não.
Ela era o zero e o um simultâneos. Não um meio termo falho entre eles.
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