"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



sexta-feira, 30 de julho de 2010

[o resto da sobra]



nada me resta.
me sobram, as coisas, realmente.
resto é podre, é lixo, desgosto.
o resto é o descarte, é o que não se quer mais ou não mais se precisa.
mas o que sobra, não. é diferente.
a sobra é o detalhe que não se prestou atenção.
a sobra de alguma coisa que era muito e por ser demais sobrou.
mesmo que não se quisesse que fosse descartada.
a sobra do doce preferido que não cabe mais no estômago.
o resto do brócolis que a criança deixa no prato.
eu quero sobras, não restos.
as sobras por serem detalhes as vezes são mais importantes do que a coisa daonde ela fazia parte.
em mim, me sobra o riso e me resta o amor.
o amor é só o que me resta.

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