"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



quinta-feira, 17 de março de 2011

[música]

e o menino fazia musica propria. suas composiçoes nao só lhe pertenciam, como o som que o instrumento traduzia de suas mãos, também deveria pertencer-lhe. o unico porem é que pertencia tambem aos outros. e só pertencia tambem aos outros porque era inevitavel escutar. nao se pode parar de escutar como se pode parar de ver. alias, nao ver é mais fácil do que ver. nao escutar é outra coisa bem diferente.
sua música era ele próprio traduzido numa linguagem artistica. as vezes empacava numa nota só, mas ultimamente a melodia fluia sem problemas maiores.
ele guardava um pouquinho de si em cada musica. perdia uma parte essencial dele mesmo para ganhar uma outra versão, um pouco triste, as vezes animada, por certo mais madura.
os ouvintes se percebiam intrusos, mas nao havia nenhum constrangimento. era beleza. e transformar beleza em vergonha é que seria constrangedor.
todo mundo ouvia sobre ele o tempo todo. mas ninguem podia dizer quem ele era.
a musica era um ele anterior, agora ele devia ser um pouco mais triste, ou mais animado, certamente mais maduro.

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