"Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças, de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."
B.S.



domingo, 7 de fevereiro de 2010

[o anti-movimento]


a nuvem paira bem em cima da menina. estaciona. congela.
a nuvem empaca tanto quanto a menina já empacou também.
e ninguem sai do lugar, só o mundo que se move ao redor da menina e da nuvem.
está tão quente que ninguem mais consegue respirar. está parado. o ar também não se move.
a nuvem pinga, resfriada, e resfria a menina.
ela nao sai do lugar.
de que adiantaria? se saisse, a nuvem continuaria pairando ali, uns dois ou três metros acima dos seus pensamentos, que estacionam junto com a nuvem e com a pequena que não pensa mais.
não precisa mais pensar em nada, também. se pensasse, o movimento deixaria de ser.
(dado que ela nao encontraria razoes para ele.
o movimento exige esforço
o pensamento esgota todo o esforço da menina. egoista que é)
e (o movimento) deixando de ser, o estático também nao mais existiria, dado uma coisa não é nada sem a anti-coisa, tal qual o adversário nao o seria sem aquele que o desafia.
sem aquilo que move e sem aquilo que pára não se sabe o que poderia restar.
por isso não pensa. é unica chance de voltar a movimentar.
o mundo é assim e ponto. o que há de se pensar dele?
se se pensar muito nele ele pode parar tambem.
e se assim fosse, deixaria de ser mundo.
e a menina não teria mais com quem voltar a girar.

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