
eu sento e espero, muitas vezes. eu ou qualquer outra pessoa, veja bem.
nao conheço ninguem que nao queira alguma coisa, que esteja livre de aspirações, sonhos ou fantasias. no minimo, deseja alguma coisa para querer.
eu quero e quero muito, o tempo todo. nao sei ainda o que, mas cada parte isolada de mim precisa
tanto que me torno
conjunto.
são tantos quereres, uma variedade tao assustadora e doentia de quereres, que todos tornam-se uma coisa só: saudade.
só que nao é uma dessas saudades temporais. nao é essa necessidade de
presentear um acontecimento passado. saudade é reviver. reviver nunca passará de uma tentativa frustrada. nada se revive, nunca.
saudade é inevitavel. é expectativa. é um querer que nao pode ser realizado, por isso tao frustrante.
mas não é isso. é um outro tipo de saudade.
na verdade nem o é, mas nao existe alguma outra palavra que possa caracterizar tal sentimento.
alias, pode até ser considerada temporal, mas em relação a uma outra temporalidade.
é novamente uma tentativa frustrada, mas, no caso, de aproximaçao de um futuro já planejado.
se voce quer significa que ainda nao o tem, mas espera ter, de preferencia no instante seguinte.
e voce espera, assim como eu. nós sentamos e esperamos.
mas o
futuro nunca chega.
futuro é aquilo que ninguem vai conhecer.
a gente finge que pode controlá-lo só um pouquinho porque assim é mais fácil.
acredito que a maior ilusão que temos se refere ao controle. tudo torna-se muito simples se voce pode controlá-lo, é muito cômodo que se exista um cronograma que seja seguido.
as pessoas até que costumam gostar de surpresas, mas abdicam delas em troca dessa segurança do planejamento.
ilusão. nao se tem controle sobre nada. nem sobre si próprio quanto menos de um futuro isento de rumos ou previsões.
mas só se percebe isso quando tudo acontece de maneira diferente do que se tinha pensado. aquela quase certeza de estar prevendo a maneira do acaso de agir se torna frustação quando se percebe que nao havia certeza nenhuma desde o principio.
há uma expectativa muito grande em relação ao controle.
eu mesma tenho várias. espero muito sempre e o tempo todo, como disse. me frustro sim, é verdade.
mas nao me frustro de tal maneira que nao possa aproveitar as delicias das adversidades.
é inevitavel criar fantasias de como será o encontro ou a despedida, a conversa, realidades paralelas, crio-as sempre. mas sei que serão diferentes.
nao necessariamente melhores ou piores. só diferentes. e isso até que me faz bem.
como seria se todos tivessem controle sobre vidas alheias?
se alguem fizesse um script de suas falas e atos para que condizessem com a vontade dela própria?
nao. seria assustador.
me faz bem saber que apesar de tudo as coisas acontecem sempre, dá-se um jeito, nao importa de que maneira.
uma única surpresa, por menor que seja e que te faça feliz, é
tantas vezes melhor do que um cronograma inteiro da sua vida que dê certo para você.